Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert

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05/09/2017

O mineral Dolomita, ou a Dolomita?

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por Cibele Montibeller

 

Segundo a gramática da Língua Portuguesa, o gênero dos substantivos reflete diversos fatores da evolução de cada língua, o que pode gerar diversas dúvidas com relação à forma correta de expressar o gênero de algumas palavras. Para estudantes de mineralogia e petrologia, podemos começar pensando nos nomes dos minerais.

“Mineral” é um substantivo masculino, portanto “o mineral” é a forma correta de expressar suas ideias acerca de uma determinada amostra. “Espécie” por sua vez, é um substantivo feminino, e, portanto, “a espécie mineral” é a forma correta. “Espécime” é um substantivo masculino, e, portanto, “o espécime mineral” está correto.

Calcita

Mas dificilmente nos referimos a espécimes minerais tão formalmente assim. Calcita, dolomita, quartzo, feldspato, muscovita, piroxênio, são os substantivos que usamos com maior frequência ao descrever um determinado espécime mineral. Percebe-se, contudo, que “o mineral calcita” é uma forma de referir-se à nossa amostra, com o artigo masculino “o”, que se refere ao substantivo “mineral”, e não ao substantivo “calcita”.

Imagine que falamos de Guaraná. O guaraná? O refrigerante de guaraná? O fruto do guaraná? Em qualquer um dos casos “guaraná” é um substantivo masculino. E a Fênix? A ave Fênix? Trata-se obviamente de um substantivo feminino. Como minerais não têm usabilidade constante no correr de nossa língua portuguesa, precisamos nos remeter à história e à evolução da língua portuguesa, para tirarmos esta dúvida.

Em 1868, em um documento denominado “Curso Elementar de Sciencias Physicas e Naturaes para uso dos Lyceus – Mineralogia”, escrito por Antonio Augusto Aguiar e José Julio Rodrigues, em língua portuguesa e publicado em Lisboa, há referências sobre o quartzo, os feldspathos, a mica, as argillas, a orthose e a albita. Parece, portanto, que nossos colegas de língua portuguesa utilizavam, no século XIX, artigo masculino para minerais terminados em “o” e artigo feminino para minerais terminados em “a”.

No “Tratado Descriptivo do Brazil” em 1587, escrito por Gabriel Soares de Souza a partir de dezenas de documentos históricos do país, e publicado em 1851, refere-se a “as turquesquas”, “a prata” e “muitas esmeraldas”, indicando que nossos conterrâneos também, por longos séculos, utilizaram-se de artigos femininos para substantivos que denominam minerais terminados em “a”.

Concluindo, enfim, para encerrar a confusão: pelo códice da gramática, todos os substantivos que dão nome aos minerais deveriam tratar-se de substantivos masculinos, por referirem-se a “o mineral”. Contudo, a gramática reflete a língua viva, e historicamente há diferenças de gênero entre espécimes minerais, levando, portanto, a utilizar o artigo masculino para minerais terminados em “o”, e o artigo feminino para minerais terminados em “a”. Portanto, temos “o ortoclásio dos sienitos”, ou “um ortoclásio em seção delgada”, e “a dolomita como mineral acessório” ou “uma dolomita que encontrei no campo”. Sem mais.


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